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sábado, 22 de outubro de 2016

Baú Cultural

Conversas de vestidos e calças

O outono tem sido quente. Parece que o verão não quer nos deixar. Para mim, tudo bem, pois adoro o calor, aquele cheiro da noite quente que convida a andar pela cidade ao invés de se esconder debaixo das cobertas e de uma caneca de chocolate quente. Porém, é preciso saber sobreviver ao “verão”. Colocar as pernas de fora é uma das táticas. Mas também pode ser um problema…não para as pernas que estão de fora, porque elas estão felizes livres e refrescadas. O problema é com as pessoas que nunca devem ter visto pernas de fora, ou que devem se incomodar com as pernas alheias. No caso dessa história, as pernas de fora são as das mulheres e os incomodados, os homens. Eu gosto de usar saias, vestidos. Sinto-me presa e desconfortável com calça. Interessante pensar que justamente ela, a calça, já foi símbolo de revolução de comportamento. As mulheres não podiam usá-las. Até que algumas tiveram a audácia de usar. Tornou-se moda e hoje uma mulher usando calça é algo banal. Hoje o problema é saia, o vestido. Hoje, num outono veranesco, as mulheres puseram as pernas de fora. Eu também. Ao entrar em um ônibus, um homem mandou um beijo para mim e tentou formar algumas palavras, provavelmente não muito elegantes. Ele não conseguiu terminar de formular as palavras porque antes delas eu respondi a ele. Confesso que fui grosseira, assim como ele. A dita criatura ficou sem rumo naquele ônibus. Ficou chocado por ter sido repreendido por uma mulher que se atreveu a colocar as pernas de fora num dia quente. Aí fiquei imaginando aquelas mulheres que se atreveram a usar calças quando não podiam. Calças, nesse contexto, podem ser consideradas símbolos de uma revolução comportamental, social, sexual. Penso que hoje, as saias, os vestidos ocupam esse papel. Interessante pensar que o assinte seja pernas de fora num dia de calor e não a obscenidade e desrespeito diante delas. Vi muitas pernas de fora hoje. As masculinas passavam despercebidas na multidão. As femininas tiveram que justificar sua audácia de estarem à mostra. O bom é que sempre existirão pernas audaciosas!

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